Teutônia PRO 2022 | 17-20 Novembro

Longboard. À noite, tudo corre sobre rodas em Lisboa

 É um bom programa para as noites, tendo um bom lugar e companheiros para andar é o que importa. Texto original de Clara Silva para o site http://www.ionline.pt



O trânsito em Lisboa está caótico. Já passa das nove, mas o Vogue Fashion Night Out, evento que põe as lojas abertas até de madrugada com saldos e champanhe, entupiu o trânsito. “Na Avenida da Liberdade aquilo está o caos”, diz alguém que acaba de chegar ao jardim do Campo Grande com um skate debaixo do braço. Longe do trânsito, Pedro Fernandes e Gonçalo Martins, os organizadores do cruising que leva dezenas de pessoas a percorrer as ruas de Lisboa à noite de skate, tentam arranjar uma rota alternativa para escapar à confusão. “Talvez pela Almirante Reis…”, equaciona um deles.


A rota pouco interessa. O que importa é ir de skate, longboard para sermos mais precisos, e chegar em segurança ao destino, o Cais do Sodré. Pedro e Gonçalo começaram a organizar os cruisings nocturnos por Lisboa há mais de um ano, em Junho do ano passado. “Quando pusemos o evento no Facebook pensámos que iam aparecer no máximo umas cinco ou seis pessoas”, conta Pedro. “Apareceram 30.” O número não parou de aumentar nos cruisings seguintes e agora costumam ser sempre mais de 50, rapazes e raparigas – “embora raparigas não tantas como gostaríamos”, diz Gonçalo.

A ideia de organizar um passeio de longboard pela cidade começou quase “como uma brincadeira”. “Costumávamos andar nos arredores de Lisboa e queríamos cativar pessoal novo para o desporto ou trazer pessoal que já andava para dentro da cidade”, explica Pedro, de 38 anos. Gonçalo, de 32 anos, começou a fazer longboard quando morava em Barcelona e quando voltou para Portugal não quis deixar de praticar. “Conheci pessoal que andava cá, mas era sempre uma coisa muito underground”, conta. “Andávamos muito em Talaíde [no Cacém] numa urbanização fechada ao trânsito.”

Nos cruisings que começaram a organizar no centro de Lisboa, o trânsito não parece ser problema. Pelo contrário, circula-se pela estrada, com carros sempre ao lado. “Levamos quase sempre todos capacete, isso é fundamental, e alguns coletes reflectores. A dificuldade maior são os carros e o percurso Saldanha – Marquês de Pombal, mas incentivamos quem não está muito à vontade a fazer as partes mais difíceis do percurso com o skate na mão”, explicam.

Aos poucos vão aparecendo rapazes com longboards no ponto de encontro do cruising, no Jardim do Campo Grande. “Hoje é capaz de ser um dos cruisings com mais gente porque se vão juntar os estrangeiros que estão cá para o Lagoa Azul Pro [o festival de longboard que decorre durante o fim-de-semana na Lagoa Azul, Malveira da Serra]”, diz Pedro. A maior parte são rapazes na faixa dos 30 anos, “mas ultimamente também tem aparecido pessoal mais novo, abaixo dos 20, que tem mais tempo para praticar e isso sobe o nível”.

Não é preciso ser um especialista de longboard para participar nos cruisings. “Uma pessoa com as bases mínimas já consegue fazer o percurso”, diz Susana Torroais, de 31 anos, que entretanto chegou com um vizinho – mais um que conseguiu “converter” ao longboard, orgulha-se. “Aqui andamos sempre na faixa do bus, nunca ninguém fica sozinho. E também estamos aqui para a ajudar, o pessoal é espectacular.”

Susana começou a andar de skate em 2007, com aulas particulares, “porque achava que já não tinha idade para andar com os miúdos de seis anos”. Foi evoluindo de tal forma que agora é uma das fundadores do grupo Longboard Girls Crew Portugal, juntamente com Joana Duarte, e dinamizadora de muitos encontros femininos de longboard.

A ideia do grupo é juntar raparigas que façam longboard e andarem juntas aos fins de semana ou ao fim do dia. Também já se organizaram viagens a Espanha, para andar de skate com raparigas da Girls Crew madrilena. “O problema é que a maior parte das miúdas tem medo das quedas”, diz Susana. “Por isso ainda não há muitas a andar.” Ela própria também diz que às vezes é “um bocado mariquinhas”. “Vou testando os meus limites a pouco e pouco”, sorri. Alguns limites já lhe custaram caro: um pulso torcido, algumas entorses e um músculo rasgado. Faz parte.

Hoje e amanhã as raparigas da Longboard Girls Crew vão estar no festival Lagoa Azul Pro a dar workshops para quem está a pensar iniciar-se no longboard. Ter aulas pode ser uma boa maneira de “evitar quedas desnecessárias”. Os workshops custam 20 euros (dois workshops nos dois dias) e o preço também inclui a participação nalgumas provas – para as meninas que já se sentem confiantes, claro.

Pedro e Gonçalo, os mentores do cruising e do grupo Longboard Skate Lisboa, não vão participar nas provas do Lagoa Azul Pro porque estão lesionados. “Entorses”, queixam-se. Ainda assim não deixam de deslizar pela cidade até ao Cais do Sodré – e parece que até foram parados no caminho pela polícia.

Pelo menos é o que garante Pedro Vaz, de 24 anos. Este já é o seu terceiro cruising por Lisboa e antes de conhecer o grupo costumava andar sozinho no Jardim da Estrela. Para Pedro, encontrar outras pessoas que faziam longboard em Lisboa foi como “encontrar vida extraterrestre”. “Costumava ir andar sozinho para o Jardim da Estrela à noite, quando as portas do jardim estavam quase a fechar, até que um dia apareceu o pessoal do Longboard Skate Lisboa”, conta. “Passei a noite a experimentar os skates deles e depois passei a vir aos cruisings. É muito melhor do que andar sozinho e eles organizam encontros para todos os níveis, desde estes cruisings supostamente para iniciados, até freeride para quem já anda muito bem.” Se quiser deslizar pela cidade no próximo cruising (ainda não há data marcada) basta estar atento às páginas de Facebook do Longboard Skate Lisboa e da Longboard Girls Crew Portugal.

Fonte: Longboard Girls Crew Portugal

Comentários